A ideia de que correr maratonas pode “desgastar” o coração acompanha o universo da corrida de longa distância há décadas. Parte dessa preocupação vem de exames feitos logo após provas intensas, que mostram alterações temporárias na função cardíaca e aumento de marcadores sanguíneos associados ao estresse do músculo do coração.
Mas a pergunta central sempre foi outra: essas mudanças deixam sequelas no longo prazo? Um estudo publicado na revista científica JAMA Cardiology buscou responder exatamente essa questão, acompanhando corredores amadores por um período de dez anos.
O que o estudo avaliou ao longo do tempo
A pesquisa acompanhou 152 corredores recreacionais de maratona, com média de idade de 43 anos. Os participantes passaram por avaliações cardíacas antes da prova, imediatamente após a maratona, um dia depois, três dias depois e, novamente, dez anos mais tarde. Foram analisadas medidas de função dos ventrículos e biomarcadores cardíacos, como a troponina.
Alterações aparecem após a prova, mas desaparecem com a recuperação
Logo após a maratona, os pesquisadores observaram uma redução temporária na função do ventrículo direito, alteração que costuma gerar preocupação entre corredores. No entanto, os dados mostraram que essa queda começou a se normalizar já no dia seguinte e retornou aos valores habituais em poucos dias. O ponto-chave do estudo foi o acompanhamento de longo prazo: dez anos depois, a função cardíaca permaneceu estável, sem sinais de deterioração progressiva.
Troponina sobe, mas não indica dano duradouro
A elevação da troponina após a maratona também foi registrada, mas não apresentou relação com pior desempenho cardíaco anos depois. O estudo reforça que esse aumento reflete estresse fisiológico agudo do esforço prolongado, e não lesão permanente do coração.
O que isso significa para quem corre maratonas
Os resultados indicam que, em corredores amadores saudáveis e bem preparados, as alterações cardíacas pós-maratona são transitórias. Não houve evidência de que a prática repetida de maratonas cause dano cardíaco crônico quando o treinamento é bem estruturado.
Planejamento segue sendo o maior fator de proteção
A principal conclusão é direta: o coração se adapta ao desafio quando há progressão adequada, recuperação respeitada e consistência no treinamento. A maratona, nesse contexto, não representa um risco cardíaco de longo prazo, mas sim mais uma adaptação extrema do corpo humano ao esforço de resistência.

















