A ultramaratonista Stephanie Case protagonizou uma das cenas mais marcantes do ano no Ultra-Trail Snowdonia, no País de Gales. Durante os 100 km da prova, em maio, ela parou três vezes nos postos de apoio para amamentar a filha de seis meses — e ainda assim cruzou a linha de chegada com o melhor tempo feminino, mesmo largando na última onda de atletas. A imagem da mãe com a filha no colo enquanto se abastecia viralizou e rapidamente virou símbolo de força e resiliência no esporte.
Uma jornada marcada por perdas e reconstrução
O que torna sua vitória ainda mais impactante é o percurso emocional que veio antes. Nos últimos anos, Case enfrentou diversas perdas gestacionais e passou por três rodadas de fertilização in vitro, período em que a corrida deixou de ser refúgio e passou a ser um gatilho de culpa e dúvida. Ao mesmo tempo, ela seguia trabalhando como advogada de direitos humanos em zonas de conflito, equilibrando rotina intensa e tentativas frustradas de gestação.
A maternidade veio apenas após a terceira tentativa de FIV, e o nascimento de Pepper, no fim de 2024, marcou uma espécie de renascimento. Seis semanas depois, com liberação médica, a atleta voltou a correr, agora com uma nova relação com o corpo e com o esporte. Foi nesse momento que, segundo ela contou à Runner’s World, percebeu que poderia reencontrar a alegria de correr, algo que havia desaparecido durante os anos de tentativas.
A preparação que reacendeu a confiança
Sem competir havia três anos, Stephanie Case iniciou um ciclo de treinos mais estruturado com o apoio de uma treinadora. Adicionou sessões de força, sprints curtos, treinos de subida e ajustes para encaixar a rotina esportiva com a vida de mãe. O processo reacendeu sua confiança e revelou uma forma física surpreendente para alguém em retorno pós-parto.
A corrida das montanhas, das pausas e da vitória
Em Snowdonia, Case largou sem expectativas. Parava nos 20 km, 50 km e 80 km para amamentar Pepper, reabastecia com frutas, géis e líquidos e seguia adiantando posições. Com ritmo constante, ultrapassou centenas de corredores e completou os 100 km em 16h53. Só depois soube que havia vencido. Mesmo partindo atrás, seu tempo final foi mais rápido que o de todas as mulheres do pelotão elite.
Um novo capítulo, não um retorno
Ao olhar para essa fase, Case não usa a palavra “volta”. Ela enxerga tudo como continuação: uma vida que agora inclui correr, ser mãe e inspirar outras mulheres que vivem desafios parecidos. Para ela, “o privilégio é poder ter os dois — a corrida de volta e a filha nos braços”.
A história de Stephanie Case vai além da vitória. Mostra que, na ultradistância e na vida, ciclos difíceis podem se transformar em capítulos de força, propósito e novos começos.

















