Para muitos corredores, treinar com música é quase indispensável. As batidas ajudam a manter o ritmo, reduzem a percepção de esforço e tornam o treino mais prazeroso. Mas, segundo um novo estudo publicado recentemente por pesquisadores canadenses, esse hábito pode alterar a biomecânica da corrida — especialmente quando o treino é feito na esteira.
O efeito da batida no corpo
O experimento analisou 50 corredores (25 homens e 25 mulheres) em treinos de 400 metros, realizados tanto ao ar livre quanto em esteira, com e sem música nos fones. As músicas escolhidas tinham batidas rápidas e populares — como Moves Like Jagger, do Maroon 5, e Pump It, dos Black Eyed Peas — e foram reproduzidas a 85 decibéis, volume semelhante ao de um fone comum.
Os resultados mostraram que, ao ouvir música na esteira, os corredores encurtaram a passada e aumentaram a frequência dos passos, o que pode parecer bom à primeira vista, mas indica uma alteração involuntária da mecânica. Além disso, o estudo registrou maior rigidez nas pernas, um sinal de que o corpo absorve menos impacto e, portanto, tem mais dificuldade para dissipar energia durante o movimento.
Efeito mais forte nas mulheres
Embora as mudanças tenham sido observadas em ambos os sexos, as mulheres apresentaram variações biomecânicas ligeiramente maiores quando corriam com música na esteira. Já os homens cometeram mais erros nos testes de atenção realizados após os treinos, sugerindo que o estímulo musical pode também dispersar o foco em alguns casos.
Curiosamente, as alterações não foram observadas nas corridas feitas ao ar livre, o que indica que o ambiente controlado da esteira — com menos estímulos visuais e auditivos — pode potencializar o impacto da música no corpo.
O que isso significa na prática
De acordo com os pesquisadores, o aumento da rigidez muscular e da cadência pode elevar o risco de desconfortos e lesões em corredores que treinam exclusivamente com música em ambientes fechados. Isso porque o movimento mais “travado” reduz a capacidade das articulações e músculos de amortecer o impacto repetitivo da corrida.
Ainda assim, os especialistas não condenam o uso de música nos treinos. A recomendação é apenas dosar a exposição e prestar atenção a como o corpo responde. Se você perceber que a música altera seu ritmo natural ou atrapalha a respiração, vale a pena fazer parte dos treinos sem fones.
Música ainda é motivação — mas com cuidado
Os benefícios emocionais da música continuam válidos. Ela ajuda a reduzir o estresse, aumenta a motivação e pode melhorar o desempenho em treinos curtos ou de intensidade controlada. O segredo é usar com consciência: em treinos longos, técnicos ou intervalados, prefira correr sem som para manter a percepção corporal afiada.
Como resume o estudo, a música é uma excelente aliada da mente — mas, na esteira, pode ser uma pequena inimiga da mecânica.











