Aos 31 anos, o britânico Sam King, de Frinton-on-Sea, na Inglaterra, decidiu trocar definitivamente o controle de videogame pelos tênis de corrida. Ex-jogador profissional de Call of Duty, onde chegou a ocupar o topo do ranking mundial, ele vivia uma rotina sedentária e chegou a pesar 121 kg. Hoje, após perder 38 kg e descobrir a paixão pelas longas distâncias, King encara um dos maiores desafios de sua vida: correr 74 ultramaratonas em 74 dias consecutivos.
Uma virada motivada por um drama familiar
A transformação radical não aconteceu apenas por questões de saúde. O estopim foi um episódio que mudou a vida de sua família: a mãe de Sam sofreu uma grave lesão cerebral que quase a levou à morte. Após meses de hospitalização, ela sobreviveu, mas perdeu parte da mobilidade. Para ele, o simples fato de ainda poder abraçá-la já é um milagre — e a principal razão por trás do projeto batizado de “Project 74”.
O número não é aleatório: cada ultramaratona representa um ano de vida da mãe. Além de homenageá-la, King pretende arrecadar 74 mil libras esterlinas para a instituição de caridade Headway UK, que dá suporte a pessoas com lesões cerebrais e foi fundamental no processo de recuperação de sua família.
Como será o desafio
O desafio começou em Londres, no Battersea Park, e seguirá principalmente em sua cidade natal, Frinton-on-Sea. A meta é correr 31 milhas por dia (cerca de 50 km), o equivalente a mais de uma maratona diária, totalizando 3.691 km ao final da jornada.
Para suportar a carga física e mental, Sam planeja dividir cada dia em três ou quatro voltas menores, reduzindo a sensação de distância interminável. O tempo estimado de cada ultramaratona é de cinco horas, realizadas sempre pela manhã. Para manter o foco, ele ouve música e podcasts enquanto corre.
O britânico não estará sozinho. O ultracorredor Russ Cook, conhecido como “The Hardest Geezer” por ter cruzado toda a África correndo, prometeu se juntar a ele em alguns trechos como incentivo extra.
Do controle à resistência extrema
A história de King inspira não apenas pela superação pessoal, mas também pela transição impressionante: de gamer sedentário para ultramaratonista. Após seu primeiro maratona concluída, ele se tornou obcecado por desafios de resistência cada vez mais longos, incluindo provas em cenários extremos, como a região próxima ao Kilimanjaro.
Essa mudança de estilo de vida reforça um ponto central: a corrida pode ser uma poderosa ferramenta de transformação não apenas física, mas também emocional. No caso de King, a motivação foi maior que qualquer dificuldade — e agora se traduz em um gesto de solidariedade.
Mais do que arrecadar fundos
Além da meta financeira, o desafio busca chamar atenção para a realidade de quem sofre uma lesão cerebral e para a importância de instituições de apoio.
Sua mãe, mesmo sem recuperar a independência para andar, mantém a memória intacta e segue sendo sua maior fonte de inspiração. Para Sam, cada quilômetro percorrido é uma forma de agradecimento e de valorização do tempo que ainda podem compartilhar juntos.